O complexo do cotovelo abrange três ossos, três ligamentos, duas articulações e uma cápsula articular. A articulação do úmero com a ulna e com o rádio é conhecida como articulação do cotovelo. A tróclea do úmero se articula com a incisura troclear da ulna, e o capítulo do úmero se articula com a cabeça do rádio. Essas articulações são, às vezes, denominadas articulações umeroulnar e umerorradial, respectivamente. Todavia, elas se movem juntas para produzir o mesmo movimento articular. Portanto, são coletivamente denominadas articulação do cotovelo. O cotovelo é uma articulação do tipo sinovial gínglimo, uniaxial, que possibilita somente os movimentos de flexão e extensão, que ocorrem no plano sagital em torno do eixo frontal. Ao contrário da articulação do ombro, o cotovelo não apresenta hiperextensão ativa. Esse movimento é bloqueado pelo olécrano da ulna, ocorrendo contato entre os ossos na fossa do olécrano do úmero. Algumas pessoas conseguem executar alguns graus de hiperextensão, mas isso se deve à frouxidão dos ligamentos, não à estrutura óssea. Uma segunda articulação do complexo do cotovelo envolve a articulação entre o rádio e a ulna. É conhecida como articulação radiulnar e envolve os ossos que se articulam nas duas extremidades do antebraço. Na extremidade proximal, a cabeça do rádio roda na incisura radial da ulna, formando a articulação radiulnar proximal. Por causa do formato do rádio, sua extremidade distal roda em torno da extremidade distal da ulna, formando a articulação radiulnar distal. Do ponto de vista funcional, são consideradas uma articulação à medida que se movem juntas para realizar os mesmos movimentos.
A articulação radiulnar é uma articulação sinovial trocóidea, que possibilita apenas pronação e supinação do antebraço. Quando há pronação e supinação, o rádio move-se em torno da ulna. O rádio se move, e a ulna não. Portanto, um músculo precisa estar inserido no rádio para realizar a pronação ou supinação do antebraço.
ANGULO DE CARREGAMENTO
Na posição anatômica, os eixos longitudinais do braço e do antebraço formam um ângulo denominado ângulo de carregamento. Esse ângulo tende a ser maior nas mulheres que nos homens. O ângulo de carregamento normal tem cerca de 5° em homens e de 10° a 15° em mulheres. Esse ângulo existe porque a extremidade distal do úmero não é totalmente horizontal. A parte medial (tróclea) está localizada em nível inferior à parte lateral (capítulo). Dessa maneira, como a ulna e o rádio se movem em torno da tróclea e do capítulo do úmero, eles não se movem em uma linha reta como uma articulação sinovial gínglimo típica, na qual o maior eixo do segmento inferior está alinhado com o maior eixo do segmento superior.
SENSAÇÃO FINAL
Há duas sensações finais distintas na articulação do cotovelo. Na flexão, a sensação final é macia porque os volumes musculares anteriores do braço e do antebraço são comprimidos um contra o outro, o que limita o movimento adicional. A sensação final na extensão é exatamente oposta. É descrita como dura em razão do contato entre os ossos quando o olécrano da ulna entra na fossa do olécrano do úmero. Isso é denominado sensação final óssea. As sensações finais no antebraço não são tão distintas. Na supinação, a sensação final é vigorosa por causa da tensão muscular e ligamentar. A sensação final óssea na pronação é devido ao contato entre o rádio e a ulna. Essa sensação final óssea é mais sutil que a percebida durante a extensão do cotovelo.
ACIDENTES ÓSSEOS
LIGAMENTOS E OUTRAS ESTRUTURAS
Os três ligamentos do cotovelo são os ligamentos colaterais ulnar e radial e o ligamento anular do rádio. O ligamento colateral ulnar é triangular e abrange a região medial do cotovelo. Fixa-se no epicôndilo medial do úmero e dirige-se obliquamente até as regiões mediais do processo coronoide e do olécrano da ulna. O ligamento colateral radial também é triangular. A fixação proximal é no epicôndilo lateral do úmero e a fixação distal é na região lateral da ulna, junto ao ligamento anular do rádio. Esses dois ligamentos proporcionam uma boa estabilidade medial e lateral ao cotovelo. O ligamento anular do rádio fixa-se anterior e posteriormente à incisura radial da ulna, envolvendo a cabeça do rádio e mantendo-a em contato com a ulna.
Cápsula Articular: o ligamento anular do rádio fortalece a parte anterior da cápsula articular e um pouco a parte posterior. Os ligamentos colaterais reforçam a cápsula articular lateral e medialmente. Durante a flexão do cotovelo, a cápsula articular se torna tensa sobre a face posterior da articulação, enquanto relaxa sobre a face anterior da articulação do cotovelo. Por outro lado, a extensão do cotovelo tensiona a face anterior da cápsula articular, enquanto a face posterior “relaxa”. Além do ligamento anular do rádio, as articulações radiulnares são mantidas juntas pela membrana interóssea
▶Músculos do cotovelo e do antebraço
A linha de tração é importante na determinação da ação dos músculos. Os músculos do cotovelo e do antebraço se originam no úmero e, às vezes, na escápula, e se inserem no rádio ou na ulna. Algumas generalizações podem ser feitas a respeito da linha de tração dos músculos que afeta a ação dos mesmos quando são contraídos:
Os músculos que cruzam a face anterior da articulação do cotovelo aproximam o braço e o antebraço, produzindo flexão
Os músculos que cruzam a face posterior da articulação do cotovelo aproximam as faces posteriores do braço e do antebraço, produzindo extensão
Os músculos que se originam medialmente, e cruzam a face anterior da articulação para se inserir no rádio movem o antebraço para pronação
Os músculos que se originam posteriormente e cruzam a face lateral do antebraço para se inserir no rádio movem o antebraço para supinação.
Os músculos do cotovelo e do antebraço são: braquial, braquiorradial, bíceps braquial, supinador, tríceps braquial, ancôneo, pronador redondo e pronador quadrado.
O músculo braquial se insere nas faces anteromedial e anterolateral da metade distal do úmero e transpõe a articulação do cotovelo anteriormente, para se inserir no processo coronoide e na tuberosidade da ulna. Está em posição profunda em relação ao músculo bíceps braquial. Por não se inserir no rádio, o músculo braquial não age na pronação nem na supinação. Em contrapartida, esse músculo é um flexor muito forte do cotovelo, seja qual for a posição do antebraço; às vezes, é denominado burro de carga da articulação do cotovelo.
O músculo bíceps braquial tem duas cabeças e está localizado na face anterior do braço. Esse músculo costuma ser denominado apenas bíceps. As duas cabeças inserem-se na escápula. A cabeça longa tem sua inserção proximal no tubérculo supraglenoidal, segue sobre a cabeça do úmero, atravessa a cápsula articular, desce pelo sulco intertubercular e une-se à cabeça curta oriunda do processo coracoide. Como os tendões das duas cabeças cruzam a articulação do ombro anteriormente, o músculo bíceps braquial auxilia a flexão do ombro. Contudo, sua principal ação é no cotovelo. Depois de se unirem, as duas cabeças formam um ventre muscular comum que cobre as faces anterolateral e anteromedial do úmero. O tendão do músculo bíceps braquial cruza a articulação do cotovelo e se insere na tuberosidade do rádio. Ele é o músculo superficial da região anterior do braço. O músculo bíceps cruza a articulação do cotovelo anteriormente e tem uma linha vertical de atração, sendo um forte flexor do cotovelo, principalmente no meio da amplitude do movimento. Por se inserir obliquamente no rádio, contribui para o movimento de supinação do antebraço.
Para compreender o componente de supinação do músculo bíceps braquial, pense nele como um saca-rolhas. O tendão cruza a articulação do cotovelo anteriormente e se insere anteromedialmente na tuberosidade do rádio. Quando o antebraço está em pronação, a tuberosidade do rádio roda ainda mais medialmente em direção à região posterior. Na verdade, o tendão do músculo bíceps braquial envolve parcialmente o rádio na posição de pronação. Durante a supinação, o músculo bíceps braquial se contrai e praticamente desenrola ou destorce o antebraço. Ele é um supinador mais eficaz quando há flexão do cotovelo de aproximadamente 90° e perde a eficácia quando o cotovelo está estendido. Isso ocorre porque o braço de momento do músculo é máximo a 90°; portanto, sua força angular também é máxima. À medida que o cotovelo é estendido, o braço de momento diminui, assim como a força angular, e a força estabilizadora aumenta.
O nome do músculo braquiorradial provém de suas duas inserções: uma no úmero e a outra no rádio. O local de sua inserção proximal (ponto fixo) é a crista supraepicondilar lateral, situada um pouco superior ao epicôndilo lateral do úmero. O músculo braquiorradial atravessa o cotovelo em direção anterior e lateral, para se inserir distalmente (ponto móvel) junto ao processo estiloide do rádio. Por causa de sua linha de tração vertical na face anterior do cotovelo, é um flexor efetivo do cotovelo. Seja qual for a posição inicial, a contração do M. braquiorradial traciona o antebraço para uma posição neutra. Em outras palavras, ajuda a retornar o antebraço a posição média entre os extremos de pronação ou supinação. Com a articulação do cotovelo a 90º e o antebraço supinado, é exercida resistência na parte distal do antebraço durante pronação. O M. braquiorradial se contrai a partir da posição plenamente supinada até o antebraço atingir a posição neutra, mas não além da faixa média para pronação. A mesma atividade pode ser repetida com o antebraço pronado e se movendo para supinação. O M. braquiorradial se contrai a partir da posição inicial de pronação até o antebraço atingir a posição neutra, mas não além para supinação. Isso demonstra que o M. braquiorradial tem participação auxiliar na pronação e na supinação apenas durante parte da variação articular.
O músculo tríceps braquial, comumente denominado tríceps, tem esse nome por apresentar três cabeças. Esse músculo está localizado posteriormente, e constitui toda a massa muscular da região posterior do braço. A cabeça longa insere-se na margem inferior da cavidade glenoidal da escápula (tubérculo infraglenoidal), desce entre os músculos redondo menor e redondo maior e se une às outras duas cabeças. A cabeça lateral origina-se na região lateral da face posterior do úmero, inferiormente ao tubérculo maior do úmero, ainda acima do sulco do nervo radial. A cabeça medial ocupa posição profunda em relação às cabeças longa e lateral, e origina-se em extensa área da face posterior abaixo do sulco do nervo radial. As três cabeças se reúnem e formam o ventre do músculo. O tendão do M. tríceps braquial distal ao ventre do músculo cruza o cotovelo posteriormente e se insere no olécrano da ulna. Transpõe o cotovelo em direção praticamente vertical e é muito efetivo na extensão do antebraço na articulação do cotovelo. Como não há inserção no rádio, não participa da pronação nem da supinação.
O músculo ancôneo é um músculo muito pequeno que se insere próximo ao músculo tríceps braquial, muito maior. Sua inserção proximal (ponto fixo) é na região posterior do epicôndilo lateral, cruza posteriormente o cotovelo e se insere na região lateral e inferior ao olécrano. O músculo ancôneo é pequeno em comparação com o músculo tríceps braquial e, portanto, não tem função importante na extensão do cotovelo. Esse músculo é superficial ao ligamento anular do rádio e se insere em uma parte dele. O ligamento anular tem algumas fibras inseridas na cápsula articular. Portanto, ao se contrair, o músculo ancôneo traciona o referido ligamento e indiretamente a cápsula articular. Esta ação impede que esta seja pinçada na fossa do olécrano durante a extensão do cotovelo.
O nome do músculo pronador redondo é originado de sua ação (pronação) e de seu formato arredondado. É um músculo superficial quando cruza o cotovelo, mas é coberto pelo músculo braquiorradial em sua inserção distal. A inserção proximal (ponto fixo) é no epicôndilo medial do úmero e na porção medial do processo coronoide da ulna. Cruza anteriormente o cotovelo e segue em direção diagonal até sua inserção distal (ponto móvel) aproximadamente no ponto médio da face lateral do rádio. Por atravessar a região anterior do cotovelo, determina flexão do cotovelo. Esta ação na flexão do cotovelo é apenas acessória por causa do seu pequeno tamanho em comparação com outros flexores e de sua linha de tração diagonal (não vertical). É efetivo como pronador porque traciona a inserção radial medialmente através da ulna.
O músculo pronador quadrado também recebe esse nome por sua ação (pronação) e por seu formato (quadrado). É um músculo pequeno, plano e quadrilátero, localizado profundamente na face anterior da porção distal do antebraço; portanto, não é possível palpá-lo. Suas inserções medial e lateral estão no quarto distal da ulna e no quarto distal do rádio, respectivamente. A linha de tração é horizontal desde a parte distal da ulna até a parte distal do rádio. Como o rádio gira em torno da ulna, essa linha de tração torna o músculo pronador quadrado um efetivo pronador do antebraço. Ele “puxa” o rádio distalmente enquanto o músculo pronador redondo “puxa” o rádio mais proximalmente e juntos fazem a pronação do antebraço.
O músculo supinador é um músculo profundo que contorna parcialmente a região lateral do cotovelo, de direção posterior para anterior. Origina-se posteriormente no epicôndilo lateral do úmero e na parte superior da face posterior da ulna. Cruza a região lateral da articulação do cotovelo, como também envolve a extremidade proximal do rádio e se insere nas faces do terço proximal do rádio.
Quando o antebraço está pronado, a inserção do músculo supinador está voltada medialmente (afastada da origem). A contração do músculo supinador traciona o rádio lateralmente, trazendo a inserção radial de volta para uma orientação anterior (supinação). Associa-se ao músculo bíceps braquial como agonista primário na supinação do antebraço.